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Tokenização de ativos: Dividindo para multiplicar

Tokenização de ativos: Dividindo para multiplicar

02/12/2025 - 23:01
Maryella Faratro
Tokenização de ativos: Dividindo para multiplicar

A transformação digital tem revolucionado o mercado financeiro e a economia global. Entre as inovações mais promissoras, destaca-se a tokenização de ativos, um processo que permite transformar direitos sobre bens reais ou digitais em unidades virtuais negociáveis. Ao fracionar propriedades, obras de arte ou títulos, emergem oportunidades antes inacessíveis, redefinindo a forma de investir e participar de ativos de alto valor.

Definição e funcionamento

A tokenização de ativos envolve o registro de um bem físico ou digital em uma blockchain segura e transparente. Cada token representa uma fração do ativo, garantindo que investidores adquiram participações proporcionais sem a necessidade de comprar o ativo inteiro.

Esse processo se apoia em smart contracts: contratos inteligentes que automatizam regras, pagamentos e transferências. Com eles, é possível manter um registro imutável e transparente de todas as movimentações, eliminando fraudes e disputas sobre propriedade.

Além disso, a tecnologia DLT (Distributed Ledger Technology) assegura a descentralização, tornando o sistema menos vulnerável a falhas de um único ponto de controle e mais eficiente em comparação aos métodos tradicionais.

Etapas do processo de tokenização

  • Definição de atributos do token: tipo, valor, direitos e obrigações.
  • Modelagem jurídica e técnica: inclusão de cláusulas regulatórias e auditorias de segurança.
  • Revisão de código: análise de vulnerabilidades por ferramentas e especialistas.
  • Emissão na blockchain: escolha de rede pública ou privada para hostear os tokens.
  • Conformidade legal: alinhamento com normas locais e internacionais.
  • Registro de propriedade: anotações sobre titulares e transferências no livro-razão distribuído.

Exemplos de ativos tokenizáveis

  • Imóveis: apartamentos e terrenos divididos em milhares de tokens.
  • Obras de arte: quadros e esculturas transformados em cotas digitais.
  • Títulos e ações: emissão de security tokens para mercados secundários.
  • Royalties musicais: receitas futuras de direitos autorais fracionadas.
  • Créditos de carbono: certificações ambientais negociáveis em plataformas digitais.

Benefícios da tokenização

  • Fracionamento acessível a pequenos investidores: torna possível dividir ativos de alto valor em unidades acessíveis.
  • Liquidez ampliada: ativos antes ilíquidos podem ter transações rápidas e seguras em mercados secundários.
  • Redução de custos operacionais: a eliminação de intermediários tradicionais acelera processos e diminui taxas.
  • Inclusão financeira: inclusão financeira para pequenos investidores em oportunidades antes restritas.
  • Transparência e rastreabilidade garantidas pela blockchain.

Modelos de Tokenização

Existem diferentes abordagens para criar tokens. No modelo on-chain, o ativo existe apenas na blockchain, sem contrapartida física. Já em sistemas off-chain, o token está vinculado a um bem real, como um imóvel ou obra de arte, armazenado e regulado externamente. Ademais, podem surgir tokens nativos, lançados sem vínculo a ativos pré-existentes, como certas criptomoedas e utilitários.

Desafios e riscos

Embora promissora, a tokenização enfrenta barreiras regulatórias em diversos países. No Brasil, a ausência de uma legislação consolidada obriga empresas a buscar conformidade adaptativa, aumentando custos e incertezas.

Do ponto de vista técnico, a escalabilidade das blockchains ainda requer avanços para suportar alto volume de transações. A interoperabilidade entre redes diferentes e a segurança de smart contracts também exigem atenção constante para evitar vulnerabilidades.

Por fim, a custódia de ativos físicos vinculados demanda governança clara, definindo responsabilidades sobre manutenção, resgate e valorização do bem.

Números, tendências e contexto de mercado

Estudos internacionais indicam que a tokenização poderá movimentar trilhões de dólares até 2030, transformando mercados de capitais e de bens reais. No Brasil, fintechs e startups já exploram projetos-piloto em imóveis e criptoconsórcios, enquanto órgãos reguladores como a CVM e o Banco Central debatem frameworks específicos.

Impactos e novos cenários

Com a tokenização, a função de intermediários tradicionais, como bancos e corretoras, pode ser radicalmente transformada. Plataformas descentralizadas permitem transações ponto a ponto, reduzindo comissões e acelerando liquidações.

Além disso, novos meios de pagamento e crédito digital podem surgir, ampliando a oferta de capital para empresas e projetos inovadores. Em longo prazo, títulos financeiros completamente digitais poderão democratizar a captação de recursos e fomentar empreendimentos de impacto social e ambiental.

Casos práticos e exemplos

Empresas no setor imobiliário já oferecem aos investidores a aquisição de cotas de edifícios residenciais via tokens, com distribuição automática de rendimentos por meio de smart contracts. No mercado de arte, galerias vendem frações de quadros renomados, atraindo colecionadores e amantes da cultura.

No âmbito musical, artistas tokenizam royalties futuros para antecipar receitas, permitindo que fãs e investidores participem do sucesso de álbuns e turnês. Essas iniciativas demonstram como a tokenização pode democratizar o acesso a investimentos e gerar valor compartilhado.

Glossário de Termos

Token: unidade digital que representa direitos sobre um ativo ou recurso.

Blockchain: tecnologia de registro descentralizado que armazena dados de forma segura e imutável.

DLT (Distributed Ledger Technology): conjunto de tecnologias que viabiliza livros-razão distribuídos entre participantes.

Smart Contract: programa autoexecutável que aplica regras e obriga partes contratantes.

Conclusão

A tokenização de ativos surge como uma revolução capaz de multiplicar oportunidades de investimento e redefinir mercados globais. Ao permitir o fracionamento de bens valiosos e a negociação descentralizada, essa inovação promove maior inclusão, eficiência e transparência. Apesar de desafios regulatórios e técnicos, o avanço contínuo de blockchain e contratos inteligentes aponta para um futuro em que a democratização do acesso a ativos será a base de um sistema financeiro mais justo e dinâmico.

Maryella Faratro

Sobre o Autor: Maryella Faratro

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