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Investimento sustentável: Lucro e impacto social

Investimento sustentável: Lucro e impacto social

31/10/2025 - 02:54
Maryella Faratro
Investimento sustentável: Lucro e impacto social

O investimento sustentável se consolidou como uma estratégia que alia rentabilidade financeira a transformações positivas na sociedade e no meio ambiente. No Brasil e no mundo, a busca por aplicações que integrem critérios ESG (ambientais, sociais e de governança) cresce diante de desafios climáticos e demandas por responsabilidade corporativa.

Definição e relevância do investimento sustentável

O conceito de investimento sustentável engloba ativos que consideram critérios ambientais, sociais e de governança em suas análises. Esse movimento surge da percepção de que empresas com boas práticas ESG apresentam menor risco e maior resiliência.

Além de promover a alocação consciente de recursos, o investimento sustentável atende a um propósito maior: impactar positivamente comunidades e preservar recursos naturais, assegurando um futuro mais equilibrado.

Crescimento e dimensão no Brasil

No primeiro semestre de 2025, os aportes privados em projetos de sustentabilidade e descarbonização alcançaram R$ 48,2 bilhões em 2025, representando um crescimento de 24% em relação ao ano anterior. Esse avanço reforça a confiança dos investidores na agenda ESG.

Os fundos de investimento sustentável (IS) registraram patrimônio de R$ 36,8 bilhões em julho de 2025, alta de 48,4% no semestre e de 89% em doze meses. A base de investidores saltou de 80,4 mil contas em dezembro de 2024 para 149,8 mil em julho de 2025.

Tipos e classes de fundos

O mercado brasileiro conta com 193 fundos ESG ativos, distribuídos entre aqueles com compromisso formal de investimento sustentável e os que apenas consideram fatores ESG. A maior parte desse crescimento se deu em fundos de renda fixa ESG, impulsionada pelo cenário de juros elevados.

  • Fundos de renda fixa ESG
  • Fundos de ações com selo IS
  • Fundos multimercado com critérios ESG
  • Fundos setoriais voltados a energia limpa

Apesar do avanço expressivo, os fundos IS representam apenas 0,37% do patrimônio líquido total da indústria de investimentos, indicando espaço para expansão.

Rentabilidade e desempenho

Os dados comprovam que o investimento sustentável pode gerar rentabilidade financeiramente superior em comparação aos ativos tradicionais. Desde abril de 2022, os fundos de ações IS subiram 41%, enquanto o mercado geral avançou 21,9%.

Esse desempenho destaca a viabilidade de alinhar lucro financeiro a impacto socioambiental, atraindo investidores que buscam valor de longo prazo.

Impacto social e ambiental

Os projetos sustentáveis no Brasil têm resultados concretos. Já foram preservados ou restaurados 11,1 milhões de hectares e evitadas 305,8 milhões de toneladas de CO₂.

Adicionalmente, foram gerados 23,5 mil GWh de energia limpa, produzidos 4,3 bilhões de litros de biocombustíveis, tratados 202,9 milhões de toneladas de resíduos e reutilizados 36,8 bilhões de litros de água, volume suficiente para abastecer 670 mil pessoas por ano.

Dinâmica do mercado de capitais

O mercado de títulos de dívida sustentável no Brasil atingiu US$ 67,8 bilhões até o primeiro semestre de 2025, sendo 61% desse volume alocado em títulos verdes. Apesar do histórico forte, as emissões de novos títulos caíram 65% no mesmo período, totalizando US$ 3,3 bilhões.

Essa queda reflete a instabilidade geopolítica, a ausência de emissões soberanas e o custo elevado de capital, com juros ao redor de 15% ao ano. Ainda assim, o Brasil lidera a emissão de títulos verdes na América Latina, à frente de Chile e México.

Desafios, tendências e oportunidades

O segmento de investimentos sustentáveis ainda é visto como nicho, enfrentando desafios de letramento por parte de investidores e profissionais do setor financeiro. Contudo, há um movimento crescente de alinhamento às metas climáticas e sociais definidas em acordos internacionais, como a COP30.

  • Complexidade regulatória e necessidade de métricas confiáveis
  • Alta de juros e custos de capital ainda elevados
  • Oportunidades em blended finance e parcerias público-privadas
  • Potencial para atrair capital estrangeiro em bioeconomia

Esses fatores indicam que, com inovações e modelos de financiamento colaborativos, o mercado pode escalar sem perder seu propósito socioambiental.

Contexto institucional e políticas públicas

A COP30, realizada em Belém em 2025, elevou o protagonismo do Brasil na agenda global de sustentabilidade. Governos e instituições financeiras buscam criar regulações e métricas confiáveis para estimular investimentos alinhados a critérios ESG.

Segundo o Banco Mundial, conciliar sustentabilidade fiscal e ambiental pode ampliar o PIB em mais de 5%, demonstrando a sinergia entre responsabilidade econômica e preservação dos recursos naturais.

Cases e exemplos inspiradores

Empresas de energia limpa, economia circular, reflorestamento, tratamento de resíduos e gestão de água têm protagonizado histórias de sucesso. Projetos da Amcham e iniciativas lideradas por Abrão Neto e Carlos Takahashi mostram como é possível unir estratégia de negócios e propósito socioambiental.

Em um cenário de transição, esses cases servem de inspiração para investidores, setor privado, governo e sociedade civil, provando que a sustentabilidade pode ser fonte de inovação e criação de valor compartilhado.

O Brasil, com sua biodiversidade rica e extensos recursos naturais, está em posição única para liderar a transição global rumo a um futuro sustentável. O momento é agora: investir com consciência, buscando lucro e impacto social, é construir as bases de um mundo mais justo e equilibrado.

Maryella Faratro

Sobre o Autor: Maryella Faratro

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